Política
O Brasil está mudando – e nem todos estão preparados para enxergar

Os números não mentem: nos últimos 10 a 13 anos, o número de empresas no Brasil triplicou. Mas é preciso entender o que isso significa. Não se trata de um “boom” de grandes indústrias ou multinacionais se instalando em nosso território. O que cresceu, de forma impressionante, foi o universo dos microempreendedores individuais, das pequenas empresas, das franquias e das iniciativas de quem decidiu arriscar o próprio caminho.
Enquanto o empreendedorismo ganha corpo, os sindicatos perdem espaço. O índice de sindicalizados, que já foi de 16% da população ocupada, hoje não passa de 8%. Mais de 5 milhões de trabalhadores deixaram de ser representados por sindicatos na última década. A queda não é apenas numérica, mas proporcional: ainda que mais gente esteja trabalhando, menos pessoas veem sentido em estar sob a bandeira sindical.
Esse fenômeno revela uma transformação profunda e, em muitos aspectos, silenciosa. O Brasil está mudando. Mudam as relações de trabalho, muda a forma de se enxergar o Estado, muda a previdência, muda até mesmo a lógica de representação política. Afinal, um trabalhador formal tende a olhar para o futuro de forma diferente daquele que empreende por conta própria e constrói sua segurança conforme suas próprias escolhas.
É claro que os desafios continuam. O ambiente de negócios brasileiro ainda é hostil em muitos aspectos: burocracia sufocante, juros altos, insegurança jurídica. Ainda assim, a tecnologia, o acesso ao conhecimento e as ferramentas digitais abriram portas para que qualquer cidadão – desde que disposto a aprender e a arriscar – possa criar seu próprio negócio.
Esse deslocamento tem impacto direto nas contas públicas, na cultura do trabalho e até nas disputas eleitorais. O brasileiro que empreende, mesmo que em pequena escala, tende a ter uma visão distinta sobre o papel do Estado. Em vez de esperar, passa a exigir menos tutela e mais liberdade para produzir.
O que vivemos, portanto, não é apenas um movimento econômico, mas uma mudança cultural. É a transição de um país em que o trabalho formal, mediado por sindicatos e pelo Estado, era visto como único caminho para a ascensão social, para outro em que a autonomia, o risco e a liberdade ganham espaço no imaginário coletivo.
O Brasil está mudando. A pergunta é: quem está disposto a mudar junto?