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Política

O País do Botijão Social

Enquanto isso, China e EUA disputam patentes e mercados.

Quando analisamos o cenário global, um padrão salta aos olhos: as nações mais poderosas do mundo são aquelas que lideram em conhecimento, inovação e infraestrutura. Basta observar o ranking das empresas mais valiosas do planeta. Hoje, das dez maiores, oito são americanas. Volte vinte anos no tempo, em 2005 — o mesmo. Retroceda até 1985 — o padrão se repete. E não é diferente quando olhamos para a indústria farmacêutica, o setor bancário ou o universo acadêmico. Os Estados Unidos dominam. E aí surge uma pergunta incômoda, mas necessária: será que eles detêm esse poder porque são ricos ou são ricos porque conquistaram esse poder?

A resposta talvez esteja no que nos recusamos a enfrentar no Brasil: a riqueza e o protagonismo internacional são consequências diretas de escolhas estratégicas de longo prazo. Os Estados Unidos investiram pesadamente em ciência, tecnologia, educação e infraestrutura. Formaram cérebros, criaram ambiente para a inovação florescer e abriram espaço para o setor privado crescer de forma sustentável. A China trilha caminho semelhante — ainda que sob outro regime — apostando em qualificação, produtividade e domínio tecnológico. Nenhuma potência se construiu com base em assistencialismo.

E o Brasil? Por aqui, seguimos firmes na perpetuação de um modelo perverso. O Estado, com uma carga tributária sufocante, amputa a capacidade de investimento da sociedade. Depois, em vez de criar mecanismos de liberdade econômica, oferece muletas em forma de programas sociais. Não que eles sejam inúteis. Sair do Mapa da Fome é um avanço. Mas é também um lembrete doloroso do quão atrasados estamos. A grande vitória do país, em pleno século XXI, é garantir que a população não passe fome. Isso deveria nos envergonhar, não ser motivo de celebração política.

Há algo estruturalmente errado quando o governo se orgulha de oferecer um botijão de gás para famílias que não têm renda para adquiri-lo. A pobreza se institucionalizou. A dependência virou projeto de poder. E a crise diplomática recente com os Estados Unidos escancara esse enfraquecimento. Entramos no debate internacional como um país frágil, fechado, e que desperdiçou oportunidades históricas de se desenvolver. No ranking de abertura comercial, só estamos à frente de países como Venezuela, Chade e Etiópia. Não por falta de capacidade, mas por falta de visão.

Nosso problema não é falta de riqueza natural. É falta de projeto nacional. Falta coragem para enfrentar os gargalos estruturais e fazer escolhas difíceis. Falta vontade política para romper com o imediatismo eleitoral e construir um futuro de fato. A crise com os Estados Unidos poderia ser um ponto de inflexão, se usada para algo além do oportunismo político. Direita e esquerda deveriam parar de disputar a paternidade da crise e começar a discutir um plano real de país. Um pacto nacional por crescimento, produtividade e soberania de verdade — não aquela discursiva, mas a que se conquista com conhecimento e independência econômica.

Enquanto isso não acontece, seguimos sendo um gigante com pernas cortadas. E a sociedade, anestesiada, parece conformada em viver de migalhas, quando poderia estar disputando espaço no topo do mundo.

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