Política
Brasil e EUA: Crise inevitável ou erro de cálculo diplomático?
Entre batalhas ideológicas e oportunidades desperdiçadas, o Brasil se isola enquanto outros países avançam.

A atual tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos pode até parecer inevitável diante do cenário global — todos os países foram afetados por medidas protecionistas e novas taxações. Porém, quando olhamos mais de perto, a questão é: será que o Brasil não poderia ter evitado esse impasse?
Enquanto outras nações buscam acordos, ganham prazos ou negociam tarifas, o Brasil parece paralisado. Ficamos à margem de soluções que já foram conquistadas por parceiros comerciais que se moveram com mais pragmatismo e menos ideologia. O resultado? Uma situação que, embora global, se agravou por escolhas políticas nacionais.
A política externa brasileira, marcada por acenos a regimes como o iraniano ou venezuelano, e por discursos contra o dólar ou os EUA, acabou aprofundando uma guerra ideológica que poderia ter sido evitada. Se é sabido que Donald Trump, ainda figura central da direita americana, trava um embate direto com governos de esquerda, por que então insistir em enfrentá-lo no campo simbólico, jogando o Brasil nessa disputa?
Estamos assistindo a um conflito entre a maior e a décima economia do mundo, entre as duas maiores democracias do continente, que só tende a gerar prejuízo para todos — especialmente para o lado mais frágil: o Brasil. A insistência em se manter em rota de colisão com os EUA revela um governo mais preocupado em alimentar narrativas internas do que buscar soluções diplomáticas efetivas.
Trump, com todos os seus excessos, entende o valor das instituições americanas. Sabe que o sucesso dos EUA está na independência de seu Banco Central, de sua Suprema Corte, na limitação do poder do Executivo — mesmo com a força que o cargo lhe confere. O Brasil, por outro lado, vive uma realidade onde o presidente, por vezes, quer tudo, mas não pode quase nada. A burocracia emperra, o Congresso interfere, a Justiça revisa, e a máquina pública anda em círculos.
Há também uma lição escondida no contraste entre os poderes de decisão dos dois países. Nos EUA, basta uma canetada presidencial para mudar regras — até mesmo para autorizar o uso de canudinhos de plástico. No Brasil, isso vira novela legislativa. Ainda assim, não podemos ignorar que essa “confusão brasileira” é, de certa forma, uma proteção contra autoritarismos — algo que, paradoxalmente, o próprio Trump parece tentar desafiar nos EUA.
Por fim, há um ponto crucial que não pode ser ignorado: não se pode exigir que o Brasil seja liberal apenas na economia, enquanto flerta com posturas autoritárias no campo político-institucional. O mundo — e especialmente os EUA — observa. E cobra coerência.
A crise, então, não é só diplomática. É também uma crise de estratégia, de identidade e de prioridades.