Política
Crise Brasil-EUA: soberania não se defende com propaganda

A atual tensão entre Brasil e Estados Unidos é política e econômica — e não eleitoral. No entanto, setores do governo parecem dispostos a transformar um impasse diplomático grave em peça de campanha, numa tentativa de capitalizar politicamente em cima de uma crise que exige maturidade, não oportunismo.
Um vídeo institucional divulgado pelo governo federal tenta vender uma ideia de “soberania nacional” com imagens genéricas de boi no pasto, pandeiro, indígenas, carteira de trabalho e até uma criança — visivelmente sem idade ou entendimento sobre o tema — dizendo: “Não mexe com meu Brasil, viu?”. Ao final, um locutor reforça: “My friend, aqui quem manda é a gente.” É constrangedor. É superficial. E, sobretudo, é ineficaz.
Enquanto o governo recorre a vídeos promocionais, a realidade se impõe: os Estados Unidos, nosso maior parceiro comercial nas exportações (cerca de 12% do total), acabam de anunciar uma tarifa linear de 50% sobre produtos brasileiros. Trata-se de uma medida dura, com impacto direto na economia nacional. E não será com frases de efeito ou patriotismo publicitário que o problema será resolvido — e sim com diplomacia.
O maior erro talvez esteja justamente aí: a diplomacia falhou. O governo Lula, desde o início, nunca buscou uma interlocução direta com a administração Trump. Pelo contrário, optou por declarações e posicionamentos internacionais que, embora ideológicos, fragilizaram nossa posição pragmática no cenário global — como o apoio explícito à vice-presidente Kamala Harris ou a insistência em questionar o papel do dólar como moeda internacional. Essas decisões contribuíram para o afastamento e, agora, para a retaliação.
Não se trata de concordar com as ações dos Estados Unidos. Trata-se de reconhecer que, em política externa, reação sem prevenção é sinônimo de derrota. Diplomacia é feita de canais abertos, diálogo constante, estratégia de longo prazo. Quando Lula apoiou abertamente uma candidata democrata contra um presidente republicano, ignorou um princípio básico das relações exteriores: governos passam, países ficam.
O Brasil já enfrentou momentos delicados com os EUA. Nos anos 1970, o presidente Ernesto Geisel manteve firmeza diante da pressão do governo Jimmy Carter, mas jamais fechou as portas da conversa. As tensões daquela época — envolvendo até acordos nucleares com a Alemanha — foram enfrentadas com firmeza e estratégia, sem romper os canais diplomáticos. Hoje, o governo Lula parece ter preferido o isolamento simbólico ao engajamento diplomático real.
É urgente reconhecer: não é hora de bravatas publicitárias. O país precisa de responsabilidade, inteligência estratégica e disposição para restabelecer canais de diálogo. A crise é séria. Requer maturidade. Requer liderança. O povo brasileiro merece mais do que um comercial. Merece uma resposta adulta, à altura dos desafios geopolíticos do nosso tempo.