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Dia do Trabalhador ou Dia do Trabalho? Uma breve história de quem constrói o Brasil
Por Marco Correia, advogado, empresário e comunicador

O Primeiro de Maio, conhecido como Dia Internacional dos Trabalhadores em muitos lugares do mundo, tem suas raízes fincadas em uma greve histórica ocorrida em 1886, em Chicago, nos Estados Unidos. Neste dia, os trabalhadores ergueram suas vozes exigindo uma jornada de trabalho de oito horas diárias. Esse evento marcou profundamente a luta dos trabalhadores por direitos laborais e estabeleceu uma data emblemática no calendário das lutas sociais.
No Brasil, embora houvesse manifestações operárias já no final do século XIX, foi apenas em 1924, exatamente 100 anos atrás, durante a gestão do presidente Artur Bernardes, que o Primeiro de Maio foi oficialmente reconhecido como feriado nacional. No entanto, foi durante o governo de Getúlio Vargas que a data sofreu uma transformação significativa, deixando de ser uma celebração da luta dos trabalhadores para se tornar uma homenagem ao trabalho em si.
Vargas, conhecido por suas políticas trabalhistas, incorporou o Primeiro de Maio à sua agenda política, utilizando-o como uma ferramenta de cooptação e controle sobre os movimentos sindicais. Ele transformou a data em um espetáculo cívico, promovendo desfiles e festividades que, apesar de homenagearem o trabalho, desviavam o foco das reivindicações por direitos laborais. Nasce aí o Dia do Trabalho.
Essa mudança de semântica refletiu-se na relação entre o Estado e os trabalhadores, com Vargas se apresentando como o benfeitor que concedia direitos aos trabalhadores, em vez de reconhecer que tais direitos eram conquistas das lutas populares. O Primeiro de Maio tornou-se, assim, uma cerimônia de Estado, onde o governo reforçava sua imagem como protetor dos trabalhadores.
No entanto, essa transformação do Primeiro de Maio em um feriado despolitizado não ocorreu sem resistência. Durante décadas, os trabalhadores brasileiros celebraram a data com manifestações e protestos, exigindo melhores condições de trabalho e reconhecimento de seus direitos. No entanto, ao longo do tempo, o caráter político do feriado foi gradualmente substituído por um dia de lazer e descanso.
Hoje, o Primeiro de Maio é cada vez mais uma data de celebração genérica do trabalho, perdendo sua conexão com as lutas históricas dos trabalhadores. No entanto, é importante lembrar que as origens do feriado estão enraizadas na resistência e na solidariedade dos trabalhadores em todo o mundo, e que esses ideais de justiça social e igualdade continuam a inspirar aqueles que lutam por um mundo mais justo e humano.