
Número aumentou sob administração do petista, que prometeu resolver problema na Terra Yanomami; órgão vinculado à Saúde diz que dados são preliminares e fala em “subnotificação” nos anos anteriores.
De acordo com a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, os dados de 2023 são “preliminares” e estão sendo “investigados criteriosamente”. Afirma também que números de 2022 e dos anos anteriores estariam “subnotificados”. Culpou o “abandono” do governo Bolsonaro.
Assista ao vídeo com o posicionamento da SESAI:
https://www.youtube.com/watch?v=t0Um-zq91Gg
Cerca de 30.000 yanomamis vivem em uma reserva de 96.000 km2 demarcada nos Estados de Roraima e Amazonas. É uma área maior que o território de Portugal (92.000 km2 para 10,6 milhões de habitantes).
Os indígenas têm sido expostos ao contato com garimpeiros e madeireiros que atuam ilegalmente na região. Há também casos crônicos de desnutrição e doenças. Os yanomamis têm dificuldade para desenvolver culturas de subsistência como plantio de alimentos e pesca. São dependentes de ajuda federal.
Lula assumiu o Palácio do Planalto em 2023 e fez grande divulgação sobre sua proposta de estancar a mortandade de yanomamis. Ele chegou a viajar para a Terra Yanomami em 21 de janeiro do ano passado.
A administração federal tem o Ministério dos Povos Indígenas, comandado por Sonia Guajajara (PSOL). Apesar dos anúncios do Planalto dando prioridade para o tema, o total de mortes de yanomamis aumentou em 2023.
O Poder360 entrou em contato com o Ministério da Saúde e com o Ministério dos Povos Indígenas para perguntar se gostariam de se manifestar a respeito do aumento de mortes entre yanomamis em 2023. Eis o que disseram:
- Ministério da Saúde – afirmou em vídeo enviado ao Poder360 que os dados de 2023 são preliminares e que os de 2022 e dos anos anteriores estariam subnotificados (leia a íntegra da resposta mais abaixo);
- Ministério dos Povos Indígenas – não enviou uma resposta até a publicação desta reportagem; o espaço segue aberto.
Guajajara se exime de responsabilidade. Em janeiro de 2024, o partido da ministra, o Psol, divulgou resolução em que culpa a “negligência” do Ministério da Defesa pela situação na Terra Yanomami e que o problema é o garimpo ilegal, e não mais a fome.
Procurada à época, a Defesa havia informado que não iria comentar.
Dias antes da resolução do Psol, Guajajara havia dito que o governo Lula tinha subestimado a dimensão da situação e que dificilmente será resolvida em 2024. Também culpou a gestão Bolsonaro: “Provavelmente não se resolverá em 2024, considerando a situação complexa que temos. Pegamos o território nessa situação. Achamos que era só uma crise sanitária, mas tinha toda essa questão do garimpo impregnado”.
FALTA DE COORDENAÇÃO
Segundo o pesquisador do ISA (Instituto Socioambiental) Estêvão Senra, o resultado mostra a “soberba” do governo em tratar um problema estrutural de forma desorganizada: “Identifico como principal falha o fato de não ter tido uma coordenação para atuação conjunta dos ministérios. Já havíamos alertado para a necessidade de uma atuação com esforços conjuntos, com a presença de uma instituição com poder de convocação. Não foi isso que tivemos”.