O Brasil vive uma contradição curiosa e preocupante: parece existir dois governos dentro de um só. De um lado, o chamado “governo pobre” — sempre em busca de mais arrecadação, justificando aumentos de impostos em nome do equilíbrio fiscal. Do outro, um “governo rico” — capaz de lançar programas sociais bilionários e abrir o cofre para políticas de subsídio e benefícios.
Enquanto o governo pobre se queixa de restrições orçamentárias, empurra a carga tributária para níveis próximos de 35% do PIB e adota termos como “justiça tributária” para suavizar o discurso, o governo rico expande gastos públicos em diversas frentes. São programas de distribuição de gás, créditos subsidiados para reformas residenciais, incentivos habitacionais para a classe média e reajustes reais para aposentados e pensionistas — medidas que somam dezenas de bilhões de reais por ano.
Esse contraste fica ainda mais evidente quando se observam casos como o dos Correios, que pedem um socorro financeiro estimado em 20 bilhões de reais. O resgate deve vir de bancos públicos, com garantia do Tesouro Nacional, reforçando a lógica do “governo rico” que sempre encontra recursos para cobrir déficits de estatais, mesmo quando o setor privado se afasta.
Ao mesmo tempo, o “governo pobre” anuncia cortes e contingenciamentos, inclusive na máquina pública, como o fim de bônus para servidores do INSS, o que amplia filas e reduz a eficiência do atendimento.
O resultado é um Brasil dividido entre dois mundos: um Estado que diz não ter recursos para investir em infraestrutura, mas que mantém generosos programas e benefícios de natureza política e social. A consequência é o aumento contínuo do endividamento e da desconfiança na capacidade do país de equilibrar suas contas.
Em suma, o país se vê refém de uma contradição permanente — um governo que cobra como pobre e gasta como rico, deixando a conta, mais uma vez, para o contribuinte.